domingo, julho 15, 2012

O CONCEITO DE DEUS EM KANT


No tocante à possibilidade de conhecer a Deus pela razão teorética, Kant também adotou uma posição agnóstica. Segundo ele, a razão especulativa não logra demonstrar a existência de Deus com certeza.  Essa posição do filósofo de Königsberg teve conseqüências enormes. Ainda hoje muitas pessoas pensam não valer a pena ocupar-se do problema de Deus e de provas para sua existência, por ter Kant demonstrado, uma vez por todas, ser impossível arrolar argumentos. De si, para discutir esse assunto, dever-se-ia tomar em consideração o sistema kantiano em sua totalidade. Aqui vamos limitar-nos a algumas achegas.

A tese agnóstica relativa à existência de Deus constitui a conseqüência lógica da concepção de Kant, no concernente à teoria do conhecimento, isto é, relativamente às categorias de espaço e tempo. A conseqüência é evidente: só logramos conhecer e afirmar com certeza o que é acessível à experiência dos sentidos, ou melhor, o que se enquadra nas categorias de espaço e tempo. Kant, porém, está convencido de que pertence à natureza do pensamento sintetizar tudo numa unidade fundamental. Ao mesmo passo, a idéia de Deus encerra uma função reguladora. É, pois, mister frisar que Kant jamais negou a existência de Deus. Ele apenas afirmou que a razão pura não consegue dar uma resposta positiva nem negativa, fundada cientificamente, a respeito da existência de Deus. Restringindo a certeza do conhecimento à razão pura, com suas categorias, o filósofo Kant negou o acesso à metafísica.

Depois de espalhar ruínas acumuladas pela crítica da razão pura, Kant empreende a reconstrução filosófica. A base é a obrigação moral, o Sollen, o imperativo categórico, o qual nada mais é do que o dever oriundo da voz da consciência. A fórmula mais simples do imperativo categórico reza assim: “Procede em todas as tuas ações de modo que a norma do teu agir possa ser elevada a categoria de lei universal”. 

Isso significa que o homem sente-se livre. Ora, a liberdade é uma faculdade espiritual que tem sua sede na alma. Se não fora livre, não poderia haver obrigação moral. Portanto, liberdade e alma são postulados irrefugíveis. Porém, há mais. Não deve o homem agir esperando recompensa numa outra vida. Mister se faz pautar-se tão-só pelo  Sollen. Para Kant, a alma é imortal. Nesta vida, a virtude nunca é completa, motivo por que só numa outra vida a felicidade pode ser plena. Só um Deus justo é capaz de replenar o desejo de total felicidade. Torna-se necessário relevar que a idéia do dever, da qual Kant deriva verdades não-cognoscíveis pela razão pura, não aponta para uma verdade científica ou filosófica, mas constitui uma fé moral, uma certeza de fé.


Fonte: É IMPOSSÍVEL CONHECER DEUS PELA RAZÃO? Reinholdo Aloysio Ullmann