sexta-feira, julho 18, 2014

"HOMEM DEUS"



"Se as sabedorias das grandes religiões não convém mais a nossos tempos democráticos, se qualquer retorno parece impossível, mesmo assim nada inventamos que possa ocupar esse lugar de maneira aceitável. Sem deixar de ter sua importância, as muletas oferecidas pela psicanálise não vão além do que elas são: convenientes próteses. Freud venceu Montaigne, mas sua vitória nos deixou um gosto amargo."

FERRY, Luc. O Homem-Deus, ou, O sentido da Vida. Rio de Janeiro, DIFEL, 2007.

sábado, março 08, 2014

SIGNIFICADO


Segundo penso, é absolutamente impossível conceber o significado sem a ordem. Há uma coisa muito curiosa na semântica, é que a palavra “significado” é provavelmente, em toda a língua, a palavra cujo significado é mais difícil de encontrar. Que é que significa o termo “significar”? Parece-me que a única resposta que se pode dar é que “significar” significa a possibilidade de qualquer tipo de informação ser traduzida numa linguagem diferente. Não me refiro a uma língua diferente, como o francês ou o alemão, mas a diferentes palavras num nível diferente. No fim de contas, esta tradução é a que se espera de um dicionário – o significado da palavra em outras palavras que, a um nível ligeiramente diferente, são isomórficas relativamente à palavra ou à expressão que se pretende perceber. E porque não se pode substituir uma palavra por qualquer outra palavra, ou uma frase por qualquer outra frase (arbitrárias), tem de haver regras de tradução. Falar de regras e falar de significado é falar da mesma coisa; e, se olharmos para todas as realizações da humanidade, seguindo os registros disponíveis em todo o mundo, verificaremos que o denominador comum é sempre a introdução de alguma espécie de ordem. Se isso representa uma necessidade básica de ordem na esfera da mente humana e se a mente humana, no fim de contas, não passa de uma parte do universo, então quiçá a necessidade exista porque há algum tipo de ordem no universo e o universo não é um caos.

Autor: Claude Levi-Strauss
Título: Mito e Significado
Título Original: Myth and Meaning
Tradução: Antônio Marques Bessa

terça-feira, março 04, 2014

A MORTE DA RAZÃO


O fato de que o homem é um ser decaído não quer dizer que não mais seja portador da imagem de Deus. Por decair em rebeldia e pecado, não deixou de ser homem. Pode amar, embora decaído. Seria erro afirmar que somente o Cristão é capaz de amar. Ademais, um pintor não-cristão pode a despeito, pintar a beleza. E é porque são ainda capacitados a fazer coisas como estas que manifestam ser ainda expressão da imagem de Deus ou, para dizê-lo em outros termos, que podem afirmar sua qualidade única de “humanidade” como homens.

É, pois, algo verdadeiramente maravilhoso que, embora seja o homem distorcido, corrompido, perdido em consequência da queda, é ainda homem. Não se tornou uma máquina, nem animal, nem planta. As marcas da “humanidade” ainda nele subsistem – amor, a racionalidade, o anseio por sentido, o temor do não ser, e assim por diante. Esse é o caso mesmo quando seu sistema não-cristão o leva a dizer que estas coisas não existem.

Entretanto, tais coisas é que o distinguem do mundo animal e vegetal e da máquina. Por outro lado, partindo de si mesmo autonomamente, é bastante óbvio, que sendo finito, jamais pode alcançar qualquer resposta absoluta. Isto seria verdadeiro se fosse somente com base no fato de que o homem é finito; a isto, entretanto, deve se acrescentar, desde a queda, o fato de sua rebelião. Rebela-se contra o testemunho do que existe e o perverte – o universo externo e sua forma, e a “humanidade” do homem.

Extraído de A MORTE DA RAZÃO de autoria de Francis Schaeffer primeira edição em Português 1974