sábado, julho 31, 2010

DESTITUÍDOS DA GRAÇA

Tirando as insanidades "neopentecostais" mais radicais de nossos dias, é difícil sustentar que Deus de tão encolerizado, virá castigar a todos como consequencia da maldade dos homens. Contudo, durante séculos, o homem viveu sob o fantasma da Arca de Noé: tanto o homem pecou e contrariou as determinações do criador qua as águas devastaram tudo, poupando apenas alguns "justos". Outra narrativa Bíblica que reforça essa tese é a que descreve a destruição de Sodoma e Gomorra com uma "chuva de enxofre". Certamente, ainda hoje, existem pessoas de forte religião e pouca reflexão que continuam a acreditar neste mesmo cenário: em que o pecado (sempre do outro) seja a causa de um castigo Divino.
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Nos modelos citados (Noé e o de Sodoma e Gomorra) ficam plenamente evidenciados o modelo humano. Neste modelo é totalmente aceitável que Deus premie os "bons" e castigue os "maus". Para piorar ainda mais esse estado, não raro o homem se depara com o paradoxo: gente "boa" que sofre e "patifes" que prosperam.
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Outra referência Bíblica repleta de significados é a história de Jó, homem temente a Deus e riquíssimo. O Diabo, astuto, tenta convencer Deus que a bondade de Jó se devia unicamente à sua prosperidade. Deus então autoriza Satã a destruir tudo o que ele possuía. A todos que acusam Deus pelas desgraças a ele dispensadas Jó responde: "O Senhor deu o Senhor tirou". A fidelidade de Jó foi premiada com a devolução em dobro de tudo o que havia perdido. Essa referência a Jó tem autorizado alguns a interpretarem que os bons sofrem porque Deus está testando sua fé, sua bondade ou outras virtudes. Em outras palavras, tudo o que sucede ao homem - de bom e de mau - neste mundo, pode ser explicado em termos religiosos.
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É desnecessário continuar a extrair da Bíblia lições que autorizam alguns insanos a transformar Deus no grande vilão, que está a postos a castigar alguns por seu comportamento pecaminoso, ou ainda, pronto a testar a fidelidade de outros. Enquanto isso, quem não se importa a mínima fica imune a toda e qualquer ação do Divino.
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A religião não pode continuar a incentivar o homem a ver nas calamidades, como por exemplo as ocorridas em Angra dos Reis, em Niterói, ou no Haiti e com o vulcão na Islandia como um castigo de Deus ao pecado de alguns (sempre do Outro). É necessário que o ser humano se conscientize do seu papel enquanto criatura, que os recursos colocados à sua disposição sejam sabiamente empregados para o bem de todos e que se o "pecado" é mesmo o responsável por todas as catástrofes, devemos nos referir aos "pecados" de todos, porque por causa dele: "todos estamos destituídos da Graça".
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