domingo, setembro 15, 2013

RELIGIÃO E MORTE


O que acontece com o ser humano que, de repente, de um instante para outro, cessa de existir? Qual a origem do ser humano e para onde ele vai?
A morte continua sendo um grande enigma. Inúmeros filósofos, de todos os tempos, tentaram em vão, jogar um pouco de luz nessa escuridão. A origem e o fim continuam sendo um grande enigma. Alguns convivem melhor com o problema outros vivem (aliás a vida aqui aparece como “uma ponte que se lança entre esses dois lados obscuros do existir humano: a origem e o fim” J.B. Libanio) angustiados e, por isso mesmo, dizem alguns especialistas, se deparam com ela (a morte) mais cedo. Uma coisa é certa, tanto a origem do homem (nascimento) quanto o fim (a morte) escapam à experiência pessoal. Ninguém vivencia a própria morte. Ela chega e acontece sempre com o outro. A religião entra então para tentar responder a essa angustia existencial.

É sabido que o homem, invariavelmente, atribui a causas divinas aquilo que não sabe explicar de outro modo, é dessa ignorância também nasce o temor dos deuses e da morte. Lucrécio apresenta a morte como um problema essencial a ser enfrentado pelo ser humano, ela seria a origem de suas dores e a grende responsável pelo avanço do poder da religião. O medo da morte seria a maior das apreensões do indivíduo ao longo de sua existência; ele (o medo) seria promovido e mantido pela religião, como forma de controle social.
O indivíduo passa seus dias tentando ludibriar esse seu destino cruel, buscando evitar a morte e sentindo que é vã essa sua tentativa, sofre e se desespera, muitas vezes sem vivenciar o prazer que a vida pode oferecer. Nas sábias palavras do Dalai Lama parafraseando Confúcio:

“... Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro se esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.”
Ainda segundo o entendimento de Lucrécio, o medo da morte seria também, o grande responsável pela corrida desenfreada do ser humano em direção ao acúmulo de bens, honrarias e poder. A fim de suplantar esse medo, o indivíduo não respeita limites, nem os seus próprios. Além de fazer crescer a inveja impedindo o homem de desenvolver a amizade, a boa-vontade e a virtude. O medo da morte seria também o principal responsável pela traição e pela exacerbação de temores e fantasias infantis. O homem passa a temer, não os perigos reais e concretos, mas o que é imaginário e irreal. Conclui, contudo, que nada na morte deve ser temido pelo homem, uma vez que não pode ser infeliz quem não existe e, depois que a morte lhe arrebata a vida, estar morto é o mesmo que não haver nascido.

Titus Lucrécius Carus, viveu em Roma na primeira metade do século I a.C. O ponto de partida da filosofia epicurista de Lucrécio é a verificação da infelicidade humana ¾ todo homem quer ser feliz, mas constrói sobre bases falsas a sua felicidade e sofre. O De rerum natura é concebido como um poema épico para chamar o homem à razão; é um poema contra o medo, que desvenda toda a verdade sobre a natureza, com o objetivo de permitir ao romano o gozo da ataraxia e mostrar-lhe que não precisa temer a morte, não precisa temer os Deuses, nem tampouco o Aqueronte; os fenômenos que atribui aos Deuses resultam de causas naturais e é preciso que se afaste da ignorância pela compreensão da natureza