sábado, março 08, 2014

SIGNIFICADO


Segundo penso, é absolutamente impossível conceber o significado sem a ordem. Há uma coisa muito curiosa na semântica, é que a palavra “significado” é provavelmente, em toda a língua, a palavra cujo significado é mais difícil de encontrar. Que é que significa o termo “significar”? Parece-me que a única resposta que se pode dar é que “significar” significa a possibilidade de qualquer tipo de informação ser traduzida numa linguagem diferente. Não me refiro a uma língua diferente, como o francês ou o alemão, mas a diferentes palavras num nível diferente. No fim de contas, esta tradução é a que se espera de um dicionário – o significado da palavra em outras palavras que, a um nível ligeiramente diferente, são isomórficas relativamente à palavra ou à expressão que se pretende perceber. E porque não se pode substituir uma palavra por qualquer outra palavra, ou uma frase por qualquer outra frase (arbitrárias), tem de haver regras de tradução. Falar de regras e falar de significado é falar da mesma coisa; e, se olharmos para todas as realizações da humanidade, seguindo os registros disponíveis em todo o mundo, verificaremos que o denominador comum é sempre a introdução de alguma espécie de ordem. Se isso representa uma necessidade básica de ordem na esfera da mente humana e se a mente humana, no fim de contas, não passa de uma parte do universo, então quiçá a necessidade exista porque há algum tipo de ordem no universo e o universo não é um caos.

Autor: Claude Levi-Strauss
Título: Mito e Significado
Título Original: Myth and Meaning
Tradução: Antônio Marques Bessa

terça-feira, março 04, 2014

A MORTE DA RAZÃO


O fato de que o homem é um ser decaído não quer dizer que não mais seja portador da imagem de Deus. Por decair em rebeldia e pecado, não deixou de ser homem. Pode amar, embora decaído. Seria erro afirmar que somente o Cristão é capaz de amar. Ademais, um pintor não-cristão pode a despeito, pintar a beleza. E é porque são ainda capacitados a fazer coisas como estas que manifestam ser ainda expressão da imagem de Deus ou, para dizê-lo em outros termos, que podem afirmar sua qualidade única de “humanidade” como homens.

É, pois, algo verdadeiramente maravilhoso que, embora seja o homem distorcido, corrompido, perdido em consequência da queda, é ainda homem. Não se tornou uma máquina, nem animal, nem planta. As marcas da “humanidade” ainda nele subsistem – amor, a racionalidade, o anseio por sentido, o temor do não ser, e assim por diante. Esse é o caso mesmo quando seu sistema não-cristão o leva a dizer que estas coisas não existem.

Entretanto, tais coisas é que o distinguem do mundo animal e vegetal e da máquina. Por outro lado, partindo de si mesmo autonomamente, é bastante óbvio, que sendo finito, jamais pode alcançar qualquer resposta absoluta. Isto seria verdadeiro se fosse somente com base no fato de que o homem é finito; a isto, entretanto, deve se acrescentar, desde a queda, o fato de sua rebelião. Rebela-se contra o testemunho do que existe e o perverte – o universo externo e sua forma, e a “humanidade” do homem.

Extraído de A MORTE DA RAZÃO de autoria de Francis Schaeffer primeira edição em Português 1974