Então existe o divino na
atmosfera pós-moderna. O Re-encantamento, no sentido de que a eternidade não é
mais esperada em hipotéticos outros mundos, religiosos ou políticos, que virão;
e sim vivida no instante. Instante eterno, tudo de trágico se mistura, mas de
intensidade igualmente, pois também trata-se de viver, aqui e agora, um prazer
que não pretendemos adiar para amanhã. Eis o que induz a temática dionisíaca
que se capilariza, de maneira teimosa, no todo do corpo social. Uma curiosidade
que Heidegger consagra à meu querido deus resume bem tal sensibilidade teórica:
“[...] É Dionísio, o deus do vinho, que no
meio da noite deixa aos mortais desprovidos dos deuses esse vestígio. Porque o
deus do vinho guarda, neste e em seu fruto, a originária participação recíproca
do céu e da terra, enquanto local de união dos deuses e dos homens [...]”
A co-participação do céu e da
terra, da vegetação e dos homens, não é isso que celebram as festas pagãs as
quais a atualidade não economiza. Aliás, é instrutivo perceber que mesmo as
tribos de música techno ou gótica, sem conhecimento específico do gesto
dionisíaco vão, frequentemente e com ostentação, abrigar-se debaixo do homônimo
de Dionísio. Homônimo? Eles nem mesmo sabem o que isto significa.
Pouco importa, pois ao utilizá-lo
eles anteveem que este deus “leva” o nome da “coisa” que eles vivem: a
exuberância, a expansão do prazer no aqui e agora. Sim, pode ser que nos cultos
extáticos dos agrupamentos musicais haja esta celebração sem freio de forma
demasiada. Percebemos isso, a meu ver, nas histerias religiosas e no
transbordar de alegria nas noites de vitórias eleitorais. É também o caso das
cerimônias fúnebres no caso da morte de alguma estrela musical, religiosa ou
política. Em suma, há o emocional no ar.
Michel Maffesoli