A globalização é um grande desafio para a
religião. A contribuição que devemos procurar dar consiste em convidar todas as
religiões a se empenharem na busca de um caminho de paz para a humanidade. O
que se propõe é a busca de uma ética mundial e de uma espiritualidade de
promoção do ser humano e elevação daqueles que estão em condição de
inferioridade. É preciso que se lance um olhar sobre a história, vendo no
decorrer dos séculos o desdobrar daquilo que chamamos de globalização.
Ao observarmos a época dos grande descobrimentos,
por exemplo, vemos que o homem teve a possibilidade de encontrar ali, no
convívio entre diferentes povos, uma fraternidade humana, um desenvolvimento
que levasse em conta valores, culturas, e mesmo as crenças e formas de viver,
por exemplo, dos povos indígenas. Naquele momento poderia ter ocorrido o começo
de uma globalização ética, onde houvesse não apenas uma convivência harmoniosa
entre indivíduos, mas entre grupos, classes, tribos, etnias, nações, povos.
O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) – conhecido
como o homem da ética pessoal, dos imperativos categóricos, da ética vinda da
razão prática – publicou em 1795 um livro muito interessante, intitulado: A
paz perpétua. Trata-se de uma análise da história na perspectiva de
uma ética das nações. Kant propõe nesta obra que nunca se recorra à guerra para
resolver os problemas, mas sim ao entendimento fundado em princípios éticos e
em uma filosofia autêntica – ou seja, uma filosofia livre, que não esteja
ligada a uma ideologia ou a qualquer forma do poder econômico, cultural,
religioso etc.
As religiões deveriam ter como prioridade a
perspectiva de que Deus é verdadeiro se for Deus de todos; o Deus uno é o Deus
universal, o Deus de todos os homens, de todas as mulheres, de todas as nações.
A religião tem a vocação de promover essa ética mundial e essa ética mundial
será a melhor preparação para que as religiões possam se realizar. A religião
está intimada a exercer sua missão de estabelecer uma compreensão fraterna e
laços de solidariedade entre toda a humanidade. A religião é antes de tudo uma
forma de viver de tal maneira que o culto e a doutrina que professamos ajude o
ser humano a viver como imagem e semelhança de Deus.
Mais um Papa se vai, outro deve começar seu
pontificado em breve, será que o Cristianismo consegue desta vez aceitar e
enfrentar esse desafio como religião?