O que acontece com o ser humano que, de repente, de um instante para
outro, cessa de existir? Qual a origem do ser humano e para onde ele vai?
A morte continua sendo um grande enigma. Inúmeros filósofos, de todos os
tempos, tentaram em vão, jogar um pouco de luz nessa escuridão. A origem e o
fim continuam sendo um grande enigma. Alguns convivem melhor com o problema
outros vivem (aliás a vida aqui aparece como “uma ponte que se lança entre esses dois lados obscuros do existir
humano: a origem e o fim” J.B. Libanio) angustiados e, por isso mesmo,
dizem alguns especialistas, se deparam com ela (a morte) mais cedo. Uma coisa é
certa, tanto a origem do homem (nascimento) quanto o fim (a morte) escapam à
experiência pessoal. Ninguém vivencia a própria morte. Ela chega e acontece
sempre com o outro. A religião entra então para tentar responder a essa
angustia existencial.
É sabido que o homem, invariavelmente, atribui a causas divinas aquilo
que não sabe explicar de outro modo, é dessa ignorância também nasce o temor
dos deuses e da morte. Lucrécio apresenta a morte como um problema essencial a
ser enfrentado pelo ser humano, ela seria a origem de suas dores e a grende responsável
pelo avanço do poder da religião. O medo da morte seria a maior das apreensões
do indivíduo ao longo de sua existência; ele (o medo) seria promovido e mantido
pela religião, como forma de controle social.
O indivíduo passa seus dias tentando ludibriar esse seu destino cruel,
buscando evitar a morte e sentindo que é vã essa sua tentativa, sofre e se
desespera, muitas vezes sem vivenciar o prazer que a vida pode oferecer. Nas
sábias palavras do Dalai Lama parafraseando Confúcio:
“... Os
homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para
recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro se esquecem do
presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E
vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.”
Ainda segundo o entendimento de Lucrécio, o medo da morte seria também, o
grande responsável pela corrida desenfreada do ser humano em direção ao acúmulo
de bens, honrarias e poder. A fim de suplantar esse medo, o indivíduo não
respeita limites, nem os seus próprios. Além de fazer crescer a inveja impedindo
o homem de desenvolver a amizade, a boa-vontade e a virtude. O medo da morte seria
também o principal responsável pela traição e pela exacerbação de temores e
fantasias infantis. O homem passa a temer, não os perigos reais e concretos,
mas o que é imaginário e irreal. Conclui, contudo, que nada na morte deve ser
temido pelo homem, uma vez que não pode ser infeliz quem não existe e, depois
que a morte lhe arrebata a vida, estar morto é o mesmo que não haver nascido.