Fala-se que o homem e a mulher têm diferenças intrínsecas em seus
comportamentos sociais e isto, entre tantas outras coisas, é oriundo da forma
como o ser humano se organizava na busca da obtenção do alimento. O macho era o
caçador e a fêmea uma coletora.
Caçadores ou predadores têm características muito peculiares na
busca de alimentos. A caçada é uma técnica muito específica onde o predador
deve escolher previamente sua caça e estabelecer uma estratégia que reúna
precisão, surpresa, oportunidade, necessidade, vulnerabilidade da presa, etc.
Uma vez escolhida a presa, o caçador aguarda as condições propícias para o
bote. As técnicas de caça podem ser empregadas em bando, como no caso dos cães,
ou individuais, como no caso dos leopardos. O que se deve ressaltar é que a
caça tem uma técnica precisa, objetiva e que concentra esforços e energia.
A coleta é uma atividade diametralmente oposta. Os animais que se
lançam na floresta em busca de alimentos têm em mente um cardápio aceitável, um
menu possível e dentro deste menu deve verificar a qualidade do fruto, ou seja,
o coletor trabalha dentro de uma conduta matricial: dispersão e qualidade, isto
é, há os frutos verdes, podres e maduros, e há as laranjas, limões, abacaxis,
amoras, goiabas, etc. As técnicas de colheita não envolvem surpresa, esforço
concentrado, energia focada, precisão, antes, paciência, perseverança,
repetição, etc.
O exemplo mais preciso que lembramos à respeito da questão do
homem caçador e mulher coletora é o processo de compra. Homens, em média, estão
em casa e pensam: preciso comprar uma camisa de no máximo x reais. Neste
instante ele pensa na camisa, na loja, na forma de chegar lá e a forma de
pagamento, após todo este planejamento preciso, executa ritualmente, num tempo
máximo de quinze minutos. As mulheres pensam: preciso ir ao shopping... cinco
horas depois ainda estão escolhendo brincos, meias, perfumes, saias, etc.
HOMENS SÃO “NEWTONIANOS” E MULHERES SÃO "HEISENBERGNIANAS”
Homens são racionais, lógicos, calculistas, planejadores, estrategistas,
formalistas, enérgicos, duros, estruturados: homens são caçadores. Homens a
partir se suas próprias lógicas internas, das verdades individuais, cálculos de
riscos e benefícios, cenários e projeções, métodos e técnicas matemáticas,
tomam decisões. Decisões endógenas.
Mulheres são intuitivas, táticas, detalhistas, multi-tarefas,
estéticas, flexíveis, maleáveis, sensíveis: mulheres são coletoras. Mulheres
tomam decisões a partir de suas inserções no mundo, pois percebem o cheiro, as
cores, as formas e dialogam com isto nos processos decisórios. Ela não está tão
preocupada com as reservas energéticas na hora de obter alimento, mas com a
qualidade do fruto que deve consumir. Decisões exógenas.
O Homem é cartesiano, racional puro, dialético. A Mulher é
holista, inter-disciplinar, fluídica.
HOMEM É
MODERNO. MULHER É PÓS-MODERNA
A Modernidade foi, e é, um pensamento que crê na auto-suficiência
humana para obter conhecimentos, desenvolver técnicas e produzir tecnologias
que supram todas as necessidades humanas, que visa a felicidade e liberdade.
A Pós-Modernidade não é uma negação da Modernidade, antes é uma
negação da metafísica e das metas-narrativas. De fato, aqueles que falam
Pós-Modernidade, falam a partir da premissa de que esta seja o meio pelo qual a
humanidade cumpra os ideais Modernos: o homem/mulher ser senhor e agente de sua
história e por meio de seu esforço auto-suficiente - antropocentrismo - obter
felicidade e liberdade. Os ideais Modernos se mantêm, assim, a Pós-Modernidade
não nega, antes, incorpora a Modernidade: Moderno e Pós-Moderno misturam os
ideais e as técnicas.
A virada da modernidade para a pós-modernidade, da ruptura com o
fundamento metafísico, do suporte num Deus Transcendental, fim e finalidade de
todo conhecimento, dá-se quando Deus morre e “profetiza-se” um “super-homem”
que seja ele mesmo deus. Este andrógeno – macho e fêmea – depois de sobreviver
a este trânsito da velha ordem, para a nova ordem, poderia, segundo este
profecia, colocar o “super-homem” num lugar soberano, cuja glória fosse
restaurada: um trono acima de todos os tronos.
Uma figura iconográfica seria os reis da antiguidade: os reis da
Babilônia e os reis Filisteus, ou de Tiro e Sidom. Exemplificando este
sentimento, que não é exatamente Pós-Moderno, do deus-rei-homem, temos a fala
de um outro profeta: “De novo veio a mim
a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim
diz o Senhor Deus: Visto como se elevou o teu coração, e disseste: Eu sou um
deus, na cadeira dos deuses me assento, no meio dos mares; todavia tu és homem,
e não deus, embora consideres o teu coração como se fora o coração de um deus.”
Como disse Santo Agostinho, o pecado do homem é a soberba.
Diríamos até, que temos uma visão muito moralista do pecado, aquela coisa viciada
que sempre moraliza a fala e vê homossexualidade, adultério, prostituição – o
sexo é um prato cheio – e tantos outros que visam prender-nos à culpa e ao
juízo, deixando de lado os símbolos e significações da fala, da expressão da
poíesis. Este pré-conceito nos impede de lermos a real mensagem, que jaz no
texto.
Esta poíesis de todo super-homem, este ato de fazer se dá na
terra, lugar das experiências empíricas, o pó de onde veio o Homem Adão, a mãe
lírica dos druidas, das bruxas e dos pós-modernos.
Quanto ainda poderíamos, diante deste niilismo contemporâneo,
desta loucura do espírito, desta busca por re-significações... mas não quero
enfadar-nos com alucinações de quem está lendo demais e desconstruíndo demais e
esperando mais. E como trabalhamos, ainda, somente com textos, vamos ouvir uma
música do Gilberto Gil e imaginar que não estamos apenas lendo-a, para
relaxarmos e, quem sabe, coletar alguns frutinhos.
Um dia, vivi a ilusão de
que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver
Quem dera, pudesse todo
homem compreender, ó mãe, quem dera
Ser o verão no apogeu da primavera
Só por ela ser
Ser o verão no apogeu da primavera
Só por ela ser
Quem sabe, o super-homem
venha nos restituir a glória
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher (bis)
Mudando como um Deus o curso da história
Por causa da mulher (bis)
Super-Homem: a canção
Gilberto Gil
Gilberto Gil
Marcos Nicolini é Bacharel em Engenharia de Produção pela
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e Bacharel em Filosofia
pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo, Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Doutorando pelo Programa de
Pós--Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo.