Se por um lado a modernidade
trouxe o progresso e o avanço da ciência, por outro também produziu uma crise
de sentido que se estabelece, sobretudo com a chamada pós-modernidade (COSTA,
2008, p. 13). A crise da religiosidade moderna é uma oportunidade para se
repensar a posição do Ser na sociedade em que vive, através do aniquilamento da
metafísica clássica. As influências recebidas por Nietzsche e por Heidegger
enfatizam o processo de debilamento do Ser, proporcionando uma nova
interpretação da mensagem cristã, “a forma do cristianismo tradicional foi contestada
por sua incapacidade de responder aos desafios da modernidade, e a solução foi
encontrada numa secularização acomodática” (SOBRINO; WILFRED, 2005, p. 32).
Segundo o teólogo Hans Küng
a Igreja cristã se encontra submersa em uma grave crise, “que é necessário descrever com objetividade e sem preconceitos antes de
aplicar a terapia adequada. Crise que se plasma, entre outras coisas, em
censura, absolutismo e estruturas autoritárias” (2011). Seus sintomas se
refletem no esvaziamento cada vez maior das paróquias, fruto de uma mensagem
dogmática e excludente. Em seu mais recente livro, Hans Küng (2012) afirma que
a Igreja está doente e em estado terminal, e que para sair do estado de quase
morte e sobreviver, se faz necessário deixar algumas práticas retrógadas, como
por exemplo, o seu posicionamento eurocêntrico e muito menos arrogando-se
detentora de uma única verdade.
É natural concluir que não
existe mais uma relação entre espiritualidade e cultura no pensamento
contemporâneo. O cristianismo contemporâneo não compreende o seu contexto
histórico, a sua época, assim como a cultura em que está inserido. Atualmente
existe uma crise de significados. O dualismo impregnado ainda na gênese do
pensamento cristão proporcionou aos seus fiéis um medo apocalíptico. A religiosidade
cristã, na contemporaneidade perdeu o foco e a centralidade no Cristo que fez
de sua vida e missão uma práxis pelo amor e pela caridade. O cristianismo
contemporâneo tornou-se um grande supermercado, em que seus produtos são
orações, novenas, bênçãos, curas, milagres, receitas de felicidade e até da
garantia do céu.
Enquanto o homem medievo
buscava sentido para a sua existência em bases metafísicas e em seus sistemas
simbólicos, como base de sustentação na sociedade em que vivia, com o advento da
modernidade os sistemas simbólicos que lhe davam sustentação ruíram e com isso
estabeleceu-se uma crise, através da crise das utopias, das ideologias, dos
metarrelatos, dos paradigmas que lhes proporcionavam sentido. A mudança de
paradigma estabelecida pela modernidade baseou-se na pessoa e não mais em
questões metafísicas, a crise que se iniciou na modernidade com o fim da
metafísica configurou uma crise sem precedentes da religião, consolidada
através da revolução científica.
Bibliografia:
COSTA, Genion Bezerra da. A
recepção da pós-modernidade: análise das diretrizes gerais da ação
evangelizadora da igreja no Brasil de 1996 a 2006. Recife: UNICAP, 2008.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião), Universidade Católica de
Pernambuco, Recife, 2008.
SOBRINO, Jon; WILFRED,
Felix. Concilium: revista internacional de teologia. Petrópolis: Editora
Vozes, n. 311, mar. 2005. 159 p.
KÜNG, Hans. A igreja tem
salvação? São Paulo: Paulus, 2012. 295 p.
______. “Há um cisma na
Igreja entre a cúpula hierárquica e as bases”. Disponível em:
cod_Canal=38&cod_noticia=18815>.
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