quarta-feira, setembro 30, 2009

A MULHER NA CONGREGAÇÃO CRISTÃ

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A Congregação Cristã no Brasil, denominação pentecostal, cuja origem remonta ao início do século XX (1910), na cidade de Santo Antonio da Platina, norte pioneiro do estado do Paraná, mantém até os dias atuais uma postura de extremo conservadorismo. Apesar de sua história ter sido construída durante todo o século XX, século que testemunhou acontecimentos políticos e sociais de grande impacto e que mudaram a relação entre homens e mulheres, a CCB ainda conserva uma liderança estritamente masculina. À mulher é permitido apenas o “ministério[1] da música”, no geral como organistas durante as celebrações e o exercício do ‘ministério’ denominado “irmãs da piedade”.
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Fazer parte do ‘ministério’ “irmãs da piedade” na Congregação por outro lado, faz com que as mulheres sintam-se efetivamente participando (de decisões) da vida da igreja. As “irmãs de piedade” são as responsáveis por visitar as famílias da Congregação, descobrir suas mazelas e transmitir aos líderes que irão decidir a espécie de socorro a ser designado àqueles que necessitam, sempre mediante a “condução do Espírito Santo”. O impedimento para que a mulher se manifeste ou exerça qualquer outro ‘ministério’ ou tome a palavra na Congregação, lembra igualmente, o tratamento dado pelo Catolicismo e, até muito recentemente, pelo próprio protestantismo histórico[2]. Aliás, no meio protestante, a questão da ordenação[3] feminina tem sido ainda objeto de inúmeras monografias e teses acadêmicas. As discussões têm sido acaloradas, algumas denominações que condenam, por exemplo, o uso do véu pelas mulheres da Congregação por julgar um ‘costume cultural’, de época, defendem com extrema erudição a subordinação do sexo feminino e seu impedimento a algumas posições de liderança em suas denominações. Na Congregação Cristã à mulher não é permitido se manifestar. Advertências são feitas e costumeiramente relembradas, determinando regras de comportamentos que, para as mulheres do século XXI seguir, requer atitude de total subordinação.
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Dentre estas ‘recomendações’ estão a de não usar pinturas, não depilar as sobrancelhas, não cortar ou tingir os cabelos e não exibirem jóias. Usar vestidos decotados, sem mangas, saias curtas, abertas, transparentes ou o que chamam de ‘modelos indecorosos’, são definitivamente proibidos para as mulheres da Congregação. Estas mulheres, apesar de participar de um universo religioso que prega a igualdade dos seres humanos perante Deus, ao mesmo tempo, a mantém vivendo as desigualdades e discriminações sexistas impostas por uma liderança “gerontocrata”[4]. As mulheres da Congregação, contudo, quando se referem à igreja e às suas práticas religiosas, costumes estabelecidos e afirmados pela liderança, externam posicionamentos de concordância incondicional, respeito e subordinação evidente. Para alguns pesquisadores isso se dá porque ao dominado, em ocasiões como essas, não resta outra alternativa.
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Este trabalho procura apresentar aspectos relevantes relacionados ao surgimento da Congregação Cristã no Brasil como denominação pentecostal. Procura avaliar sua estruturação ao longo do século XX e destacar algumas evidências a respeito da liderança e de uma suposta “dominação masculina” em seus quadros, não só no decorrer do século XX quanto neste início do século XXI. Este ensaio procura avaliar a trajetória da denominação, bem como a manutenção dos costumes, hábitos, regras etc. no decorrer do período citado. A análise nos remete a conclusões sem precedentes no campo religioso brasileiro.

Palavras Chave: Pentecostalismo, Costumes, Dominação Masculina

[1] A palavra ministério no meio protestante tem um significado que se aproxima muito de serviço.
[2] Protestantismo histórico é a forma como são chamadas as denominações tradicionais, herdeiras da Reforma Protestante do século XVI. Dentre estas denominações estão as Presbiterianas, Batistas, Metodistas, Congregacional etc.
[3] A ordenação é a formação e reconhecimento oficial do sacerdote, seja padre, pastor ou outra função de pregação.
[4] WEBER, Max. Economia e Sociedade. Brasilia: Editora UNB, 2004, para Weber a gerontocracia é a situação em que, havendo alguma dominação dentro da associação, esta é exercida pelos mais velhos (originalmente, no sentido literal da palavra: pela idade.
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2 comentários:

Anônimo disse...

Na verdade nem todas as irmãs concordam com essas recomendações, e as que concordam é por acreditarem que é realmente a vontade de Deus. Eu, como mulher e frequentadora da CCB discordo apenas da restrição, que ocorre quase exclusivamente no Brasil, da execução de outros instrumentos musicais além do órgão. Outra coisa a ser considerada é que os homens também tem ensinamentos, como por exemplo, não usar shorts, não deixar os cabelos compridos ou com penteados estranhos, não deixar a barba comprida, não usar piercings etc. Então, se aqueles ensinamentos fazem as mulheres serem consideradas dominadas, estes também fazem os homens serem considerados dominados. Agora você poderia dizer que todos são dominados pelos mais velhos ou pela tradição. Eu digo que apenas temos temor de Deus e procuramos não dar escândalo. (Rom. 14:15) Em entrevistas de emprego o uso de roupas indecentes, barba, piercing etc. não são recomendados. Além disso já vi muita gente (católicos ou ateus) escandalizados com evangélicos usando essas coisas.

Jefferson Holanda disse...

O Senhor é membro de alguma Igreja Cristã? Se sim, qual?

Muito interessante sua pesquisa, vou tentar adquiri-la.